Segundos, poucos segundos.
Impossível que em tão pouco tempo algo possa ser mudado. Estratégias, jogadas, enfim, muito já havia passado e, agora, havia muito pouco tempo pela frente. Mas ele tenta. Intrépido, à frente de sua intrépida trupe, ele pede tempo, pára o jogo. A segundos do seu final.
Ele se dedica a traçar e explicar a próxima, e talvez última jogada, em sua prancheta já tão acostumada com estes momentos derradeiros. Ele a segura forte, ela entende. Afinal, faltam poucos segundos e tudo, incrivelmente, ainda pode acontecer.
O árbitro apita. Os jogadores têm que voltar à quadra. Altos, porém frágeis. Neste momento, em que o marcador lhes é desfavorável, fica nítida em seus rostos suados e cansados a pressão do tempo. Sempre ele. O tempo que impõe o ritmo dos treinos, que cobra a disciplina do descanso, que se mostra impassível quando seu time queria apenas mais alguns dias para treinar aquele arremesso especial. É sempre ele, o tempo. Que seja, então, nosso aliado.
Faltam poucos segundos, mas é o mesmo tempo pros dois lados. Vence quem tiver mais sangue frio, quem conseguir dominar a ansiedade, o nervosismo. Quem conseguir, nestes poucos segundos que faltam, fazer do tempo seu melhor amigo. Não há tempo para hesitações, pensamentos, receios. O árbitro apita e o time tem que reproduzir, tal qual uma tela de cinema, o que o técnico desenhou na já surrada prancheta. Como uma pintura, um filme talvez. Os jogadores se tornam atores e precisam apenas interpretar o roteiro, à risca.
Não há tempo – sempre ele – para passar a cena novamente. Arremesso lateral. O 9 entra no garrafão, se esquivando dos adversários. O 7 lhe faz o passe preciso. Apenas isso, uma cesta de dois pontinhos. Os mesmos dois que foram tão desperdiçados ao longo dos 4 tempos.
Como a vida. Que mais hora menos hora cobra aquele abraço não dado, aquele sorriso esquecido, aquela frase de amor que parecia piegas e desnecessária e que morreu antes de nascer. A vida cobra, como em ondas que sempre voltam, após passeios erráticos pelo oceano. E, agora, apenas dois, dois pontos separam aquela equipe, aquele time, aquelas pessoas e – porque não? – aquela família da vitória. A doce, esperada e sempre almejada vitória.
Como apenas poucos segundos podem nos separar do riso ou do choro? Não deveria ser permitido. Melhor seria que tudo se decidisse a alguns minutos do encerramento. Ou dá ou não dá. E ponto final. Mas existem as vírgulas, as reticências. Até os pontos e vírgulas, sempre meio indecisos entre uma pausa menor ou maior, não podem ser desprezados. São quase pontos finais. E “quase”, assim como poucos segundos, pode fazer a diferença no final.
Ah, agora sim, o final. O apito do árbitro soa como um gongo que definirá os próximos passos de um condenado à morte. Ou talvez a sirene que indica o final do recreio – aquele em que o menino, enfim, estava conquistando a garotinha amada. Talvez o despertador que implacavelmente soa toda manhã. Sons, sons. Que nos levam a outras paragens, que embalam um amor ou uma despedida. Sons.
Mas agora é o momento da ação. De isolar o som externo, o som dos aplausos, das vaias, isolar. Ouvir o som do próprio peito arfando, o som do coração explodindo no peito. E olhar fixamente para a bola, sempre ela. Que entra suavemente na cesta, que bate no aro, que não cansa de pular impulsionada por tantas mãos. Olhar para ela, olhar para o companheiro, mirar a cesta. Hora de colocar em prática algo simples, banal até.
E quantas vezes a decisão de nossas vidas não está em coisas banais?
Vai, aja, enfrente, atue. Você pode até perder, mas o plano era bom. E neste momento desafiamos o deus do tempo e percebemos que, inexplicavelmente, os segundos se arrastam, como em câmera lenta.
O arremesso é feito, perfeito. Mais um agora, novamente irretocável. E só nos resta assistir. Assistir ao espetáculo da bola laranja deslizando suavemente na cesta, como se tivesse vivido para este momento. Uma volta para casa, um relaxamento.
Dois pontos. Tão pouco, assim como eram poucos os segundos que faltavam. E como fizeram a diferença.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
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