O ser humano gosta de rotinas. Ou, ok, eu, um ser humano taurino, gosto de rotinas. Criar vínculos, laços, conhecer pessoas, voltar aos mesmos lugares e ser chamada pelo nome. Gosto disso. Talvez por isso não encontrar a cafeteria, a loja de calçados, a doceria no mesmo lugar de sempre me cause certa nostalgia. Para aonde foram as pessoas que me atendiam? E que entendiam esse meu jeito? As pessoas com as quais conversei, confidenciei, ouvi e falei? As moças simpáticas do Amor aos Pedaços da Zona Leste, que sempre me recebiam quando eu saía da sessão de terapia aos sábados? Que foram solidárias com a minha trombose, que também ficaram receosas com a doença pelo tanto que ficavam em pé? Onde estão? Para aonde foram? Será que lembram de mim? Se foram. Assim como a doceria. Do dia pra noite.
E a minha loja de produtos naturais ali do lado do supermercado? Eu era adolescente, naquela época havia poucas lojas do tipo. Vendiam produtos naturais e as cobiçadas alpargatas, quando as Havaianas ainda nem pensavam em produzi-las. O sentimento aqui foi de uma era se indo. Uma geração, a minha mocidade. Mas cadê também a Brunella, ali perto do Shopping Ibirapuera, quase na frente do Tommy, aquele fliperama badalado que eu nunca fui porque era nova demais? Cadê a casa do meu avô, atrás da Faculdade que a comprou? Foi com ela meu avô, os almoços de domingo com minhas primas. Corríamos pela casa, assaltando escondidas o armário de salgadinhos. Cadê?
Mas tem muito mais que eu poderia lembrar. Os locais, as pessoas, os momentos, chegam e vão. Ficam o tempo que o tempo permite. E vão. Mas ficam também. Na lembrança, no coração, na certeza de que conversas jogadas fora numa doceria não são só conversas jogadas fora. São trocas. E quando a gente troca a gente dá. E recebe. E guarda pra vida. E lembra sempre. Mesmo passando em frente e não vendo mais.
sábado, 24 de março de 2018
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