sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O limite entre o desafio e o aprendizado (15/6/06)

A vida se faz de aprendizados, é o que todos dizem. Aprende-se com os pais, os irmãos, os primeiros professores, aprende-se com aquele coleguinha amigo, aprende-se mais ainda com aquele que nos maltrata, nos faz chorar. É assim. Ano após ano, vamos crescendo, amadurecendo, aprendendo. E um dia, depois das expectativas e vivências de uma faculdade, chega-se ao mundo dos adultos, começa-se a trabalhar.

Pode ser que você tenha sorte, e consiga um emprego em algo que goste, no que estudou, no que tem dom. De qualquer forma, inverte-se a lógica que existia até então. O horário agora é controlado mais do que nunca pelo outro, você tem regras a seguir, você deve se adaptar, seguir as diretrizes. Mais uma rica oportunidade de aprendizado. Emprego após emprego, empresa após empresa, um novo aprendizado. Você pensa até que já viu de tudo, que é um bom profissional, competente, sério, calejado; apesar da pouca idade.

Mas aí ele chega. E te desafia. Dia após dia. Você acha que não consegue, que o pedido é maluco, impossível até. Mas vai em frente, tem uma missão e vai dar conta dela. E dá. Não é incrível? E aí você acredita que – pronto – já fez um pouco de tudo, que depois dessa qualquer pedido será mais simples. Doce ilusão. Chega um novo job, uma nova missão.

Ele sempre te desafiando. Te ensinando. Quando vê, você já ultrapassou mais uma marca “impossível”. O que te faz ir em frente, a cada vez? O que te faz acreditar que, enfim, é capaz de fazer o que é pedido, esperado? Sem dúvida o desafio é motivador. Se ele te pediu isso, é porque no mínimo acredita que você pode. Logo você vai achar que não?

Mas há um ingrediente a mais: o exemplo. Nada mais convincente do que um chefe inspirador. Que, ao te desafiar, te ensina, te mostra um outro ângulo que você nunca tinha reparado que existia. E, quando vê, você está escalando uma montanha, indo em direção ao cume como quem faz uma calma caminhada. E, dia a dia, fica melhor, mais experiente, mais capaz. Ah, claro, e vai cumprindo o que ele espera de você. Algumas vezes até surpreendendo-o. As metas vão sendo cumpridas, os desafios vencidos, a empresa cresce. Mas tudo isso é conseqüência. Conseqüência de um movimento maior. Um movimento interior de auto-conhecimento, de aprendizado, que é impagável. Que MBA nenhum no mundo traz.

Mas nem sempre tudo é um mar de rosas. Crescer também dói. Revolta, cansa. Você olha ao redor e parece ser o único maluco correndo montanha acima quando há tantos deitados embaixo de árvores. Às vezes – muitas vezes, na verdade – você fica em dúvida. Não sabe se está dando o passo certo, falando a coisa adequada, passando o limite, entendendo a mensagem. Nessas horas, a montanha fica três vezes mais alta. Parece até que você nem começou a subir. E desanima.

Mas tudo passa. Ainda bem, passa. E, mesmo sem saber, foi ele quem veio em seu socorro. Fez um elogio, deu uma palavra de apoio, um novo ânimo. Ele sempre sabe, no fundo, quando você está prestes a parar. E sabe como te fazer retomar o rumo. Sabe como te fazer entender sutilmente o limite entre o desafio e o aprendizado. Você está aprendendo sempre, até quando pára. E ele sabe disso.

Há várias palavras que poderiam definir um chefe assim: mentor, guru, coach, líder. Cada uma com mil definições específicas. Acho todas dispensáveis. O que importa é você ter a sorte de encontrar alguém assim, independente de rótulos. Já tive muitos chefes, variados tipos. Mas sempre quis ter alguém muito bom para me guiar, me ensinar.

Marcelo, você é este chefe, é “ele”. Um exemplo. Nada ortodoxo, é verdade. Foge dos livros de regras – ainda bem. Confunde às vezes. Às vezes me deixa sem saber bem por onde começar, tamanho o desafio. Nessas horas, uma boa risada é a saída. Depois, tudo se aclara e acabo achando o caminho. Em outros momentos, você chega com aquela pergunta básica, aquela que a gente se tortura por não ter feito antes, tamanha a obviedade. E bastam uma ou duas perguntas para eu entender o roteiro todo.

Essa nossa sintonia, essa troca também é um aprendizado muito especial. Será que isso teria fim? Será que em algum momento eu pararia de aprender? Não acredito. Mas também não conseguiremos saber, pois nosso caminho foi interrompido. Talvez até voltemos a subir juntos outra montanha; espero que sim.

Mas eu não estava ainda pronta para trocar de guia. Como se faz? Isso você não me ensinou. E Isso eu não quero aprender. Rebeldia ou resistência, não me importa muito.
Acho até que pode dar certo lá. Como disse, já tive muitos chefes, variados tipos. Será mais um. Seja ele quem for. Até muito bom, quem sabe? Mas me fazer vivenciar de novo o limite entre o desafio e o aprendizado, ah, isso não vai ser tão fácil de acontecer de novo, eu sei.

Que pena. Ou que bom.

Que bom que vivi tudo isso. Continuarei a subir a montanha, prometo. Espero nunca chegar lá em cima. Que o cume sempre fique um pouquinho mais acima, me obrigando a continuar. Por que sempre há um desafio mais à frente. Você me ensinou isso. Obrigada.

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