Ele deveria vir em dezembro. E trazer o presente pedido. Ele. O Papai Noel. Afinal, não bastava ser uma boa garota durante o ano, fazer tudo o que lhe era pedido, não desejar o mal ou invejar alguém e pronto? Pelo menos foi nisso que ela sempre acreditou. Ela e todos nós. Não importa a crença, a idade. Chega dezembro e todo mundo fica um pouco mais esperançoso, um pouco mais sensível. E geralmente há um presente especial sendo almejado. Um carro, uma casa, um sorriso, um amigo. Isso também não deveria importar. Papai Noel não seleciona suas entregas por categorias, mas sim por merecimento. E foi por isso que ela tinha certeza – ou melhor, que ela desejava do mais profundo do seu ser, lá do fundinho de sua alma – de que seu presente deveria estar a caminho.
Era uma espera silenciosa, a dois. Uma espera um tanto mágica, um tanto imponderável. Porque neste caso, além do Papai Noel, a mãe natureza e um senhor que dizem ter barbas longas e morar no céu teriam participação decisiva no presente.
E chegou o mês tão esperado. Não deve ser coincidência o fato do Papai Noel vir em dezembro, após longos, felizes, tristes e difíceis onze meses. Ele vem ao final de um ano, no final do último mês do ano. Talvez seja para que, na remota hipótese de ele não trazer o presente desejado, a pessoa em questão esteja logo às portas de um novo ano, ou seja, terá mais 365 dias de esperanças pela frente, o que lhe ajudará a desviar o pensamento da tristeza sentida.
Mas esse não deveria ser o seu caso. Tanto ela desejou esse presente! Mais do que desejar, tanto ela lutou por ele! Bastava agora apenas esperar que entre as luzinhas pisca-pisca da árvore de Natal ele deixasse a encomenda. E pronto. Ela jurava que até estaria satisfeita por todos os próximos anos de sua vida. Não ia pedir mais nenhum presente em nenhum dezembro futuro. Afinal, este valia por toda uma vida. De sua parte, o Papai Noel estaria liberado para visitar outras pessoas, crianças, adultos, famílias, em qualquer canto deste vasto mundo. Ah, e o principal. Ela continuaria sendo uma boa pessoa.
E ele chegou. O Natal. O mês de dezembro. Só faltava o Papai Noel.
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O primeiro pensamento que ela teve não foi de revolta, de rancor, mágoa ou raiva. Não era para ser. Por algum motivo ela não recebeu seu presente neste Natal. Provavelmente Papai Noel tinha entregas muito mais importantes a fazer. É, de fato ela tinha bons sentimentos.
E chegou o novo ano. Mais 365 possibilidades de ser feliz. Ela já estava envolvida com as providências normais de um novo período; não esquecida, talvez conformada, com o desejo não atendido. Foi assim que ela descobriu algo até então inimaginável: Papai Noel podia se atrasar! Puxa, como ela nunca tinha pensado nisso antes?
Você acha que é simples rodar o mundo todo – que vive uma explosão demográfica -- em um veículo tão lento como um trenó? Até ele podia se atrasar! Algo lhe dizia que ele só entregava as encomendas atrasadas a quem não perdia a esperança, mas não podia afirmar. O fato é que ele veio. Trazendo consigo exatamente o que fora pedido. Um presente pequeno, uma luz de esperança, um fio mágico que a ligaria definitivamente ao futuro, mesmo quando aqui não mais estivesse.
Papai Noel trouxe a Luíza.
E daqui a alguns meses, em mais um dezembro, seus olhinhos estarão fitando as luzes pisca-pisca da árvore da sala. Maravilhados, aprendendo, sequiosos de ser. Os olhinhos da Luíza. Que estará no colo quente e seguro de seus pais. Que tanto a pediram, desejaram e esperaram.
Quem foi que disse que Papai Noel não existe? Ele até se atrasa!
Para Marita e Gaspar, que certamente acreditam em Papai Noel.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
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