6/11/2011
Sentada para escrever esta crônica sobre igrejas. Pego o controle remoto para colocar em um canal de música calma quando sem querer passo pela missa no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Coincidência? Jamais. Já passei da idade de acreditar nelas. Palavra da Salvação, Glória a vós Senhor.
Minha peregrinação começou lá em Barretos, onde mamãe nasceu. Depois da emoção de pegar sua certidão de nascimento no cartório, vou até a igreja onde talvez, provavelmente, possivelmente, quem sabe, ela foi batizada. Colorida, bonita mesmo. Ajoelho, rezo, penso nela. Penso em mim, na vida, nas provações, nos motivos. Rezo. Igreja pequena, igreja matriz na praça da pequena cidade.
“Mais que nossas vestes, precisamos lavar nossos corações”, diz a Missa na tevê.
Não muito tempo depois, sua missa de 3 anos de partida, mãe. Igreja Nossa Senhora da Esperança, onde casei. Emoções cruzadas, alegria, dor, saudade. Infância também. Tudo lá, na pequenina igreja da Rua dos Eucaliptos. Penso em ti, rezo. Choro, sinto tua falta, penso em tudo, rezo.
“Jesus está nos dizendo: tenham perseverança, pois o senhor está no meio de vós”.
Depois, o Perseverança, o porto seguro, a benção, a calma, a paz. Força, fé, esperança. Jesus nas paredes, cânticos no ar, sempre um sentimento de volta para casa. “Apegue-se à prece, a Deus”, disse Formiga.
“Jesus está dizendo para ter esperança sempre na pessoa de Deus. Ele é justo, é verdadeiro”.
De São Paulo a Salvador, a terra dos orixás, do candomblé, da fé que emana no ar, do misticismo, da benção, das bênçãos africanas. Missa na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Logo, a acolhida do Padre, a benzer os fiéis com água benta na parte de fora. Fitinhas do Bonfim, muitas. Assisto à Missa, comungo, participo da alegria baiana. Missa alegre, cantada. Bom pra alma, bom pra mente.
“Senhor, fazei-nos santos, como vós sois santos”.
E aí... Notre Dame de Paris. Certas emoções na vida são únicas, como essa. Assistir a Missa em francês, acompanhar pelo conhecimento universal de uma missa. Seja onde for, é igual. Música clássica, final de tarde em Paris. Turistas vem e vão. Eu fico. Comungo na Notre Dame. Ali, de frente pro altar, comungando em Paris. Como se fosse em Barretos. Ou São Paulo. Ou Salvador. “Onde estiver uma pessoa pensando em mim, lá estarei”, não disse Jesus? Lá ele estava. Falando em francês. Abençoando na língua do amor. Fico até a igreja fechar, sou a última a sair. Um privilégio vê-la assim, a Notre Dame de Paris tão humilde, tão incógnita, tão igual à pequena paróquia do interior.
“Proclamo a vossa Glória. Santo é o Senhor”.
Por fim, por enquanto, Sacré Couer, após 21 anos. No alto de Paris, branca, imponente, linda. Lá acendi uma vela para ti, mamãe. Lá, no sagrado coração de Maria, pedi por ti de novo. Por mim, por nós, pela vida. Pelo entendimento, pela aceitação. Pela força, pelo apoio, pela benção invisível do mais alto. Chorei por ti, por mim, por nós, por este mundo, por todas as provações que temos que passar sem entender. Trouxe uma vela, para a qual olho agora, ouvindo a Missa na tevê. O que é enfim a vida sem isso? Sem sentimentos, sem emoções.
Chegou a hora do Pai Nosso. Deve ser, então, a hora de encerrar aqui.
Amém.
“Ide em paz e que o Senhor e a Virgem Maria vos acompanhe”.
domingo, 29 de julho de 2012
Caminho de volta
14/9/2011, de Paris, jantando de frente pro Louvre
Eu pensei em levá-la de volta a Barretos, mãe, onde você nasceu. Mas nunca te disse. Na verdade... nem sei se você gostaria, mas achava que sim. E no fim quem foi fui eu.
Você fez o caminho de Barretos para São Paulo e eu, 44 anos depois, fazendo o caminho de volta. A profissão me levando, mas o coração em uma missão: ir ao cartório onde você foi registrada e trazer a segunda via de sua certidão de nascimento. Seria um link com você, sua história; você menina, bebê. No colo da vovó. E já com um nome tão forte. Só o primeiro nome, sem nenhum sobrenome. Foi assim que você foi registrada. Era assim naquela época.
HILDA
Local de nascimento: Fazenda Cuia.
Será que era muito longe da cidade? Será que a vovó demorou muito para te registrar? Tantos sentimentos tentando serem revividos 80 anos depois.
Lá estava o cartório, naquela esquina, simpático. Se a rua é tranquila hoje, imagina na época que você nasceu, mãe.
Uma emoção inigualável. Mais um presente que recebi da vida.
E os nomes dos vovôs? Mateus, Joana. Nomes tão na moda atualmente!
E a maior surpresa talvez foi descobrir o sobrenome da vovó. Soldera.
Ela trouxe o “Padovan” do vovô e aí sua família parou – ou nunca existiu, para nós. Muito estranho. Somos descendentes deles e nem os conhecemos. Nunca tinha ouvido falar. Da parte do papai, eu conhecia o “Baldini”, da nona. Até nisso está o machismo não?
Querida, fui até a igreja também. Linda, colorida. Será que você foi batizada lá? Acho que sim, né?
Orei muito a Deus para que nos vejamos, rezei por tua luz, por tua luz em mim, rezei por nós.
E tive muito orgulho de ouvir da apresentadora da minha palestra que sou “filha de barretense”. Sou sim, com muito orgulho!
Eu pensei em levá-la de volta a Barretos, mãe, onde você nasceu. Mas nunca te disse. Na verdade... nem sei se você gostaria, mas achava que sim. E no fim quem foi fui eu.
Você fez o caminho de Barretos para São Paulo e eu, 44 anos depois, fazendo o caminho de volta. A profissão me levando, mas o coração em uma missão: ir ao cartório onde você foi registrada e trazer a segunda via de sua certidão de nascimento. Seria um link com você, sua história; você menina, bebê. No colo da vovó. E já com um nome tão forte. Só o primeiro nome, sem nenhum sobrenome. Foi assim que você foi registrada. Era assim naquela época.
HILDA
Local de nascimento: Fazenda Cuia.
Será que era muito longe da cidade? Será que a vovó demorou muito para te registrar? Tantos sentimentos tentando serem revividos 80 anos depois.
Lá estava o cartório, naquela esquina, simpático. Se a rua é tranquila hoje, imagina na época que você nasceu, mãe.
Uma emoção inigualável. Mais um presente que recebi da vida.
E os nomes dos vovôs? Mateus, Joana. Nomes tão na moda atualmente!
E a maior surpresa talvez foi descobrir o sobrenome da vovó. Soldera.
Ela trouxe o “Padovan” do vovô e aí sua família parou – ou nunca existiu, para nós. Muito estranho. Somos descendentes deles e nem os conhecemos. Nunca tinha ouvido falar. Da parte do papai, eu conhecia o “Baldini”, da nona. Até nisso está o machismo não?
Querida, fui até a igreja também. Linda, colorida. Será que você foi batizada lá? Acho que sim, né?
Orei muito a Deus para que nos vejamos, rezei por tua luz, por tua luz em mim, rezei por nós.
E tive muito orgulho de ouvir da apresentadora da minha palestra que sou “filha de barretense”. Sou sim, com muito orgulho!
De frente pro Louvre
14/9/2011
Jantando de frente para o Louvre.
Outro privilégio, outra benção. Amém.
Luzes, pouco frio, as pirâmides.
Os parisienses fumam muito. A cidade cheira a cigarro, a lembrar que a boemia aqui nasceu e deu aulas pelo mundo.
Os parisienses grafitam muito. Viadutos, casas. Lembram São Paulo. A mesma transgressão? Por que não?
E os parisienses seguem flanando.
E tomando seus cafés em cafés, despreocupadamente, como se a vida devesse esperá-los. Por que não...?
Jantando de frente para o Louvre.
Outro privilégio, outra benção. Amém.
Luzes, pouco frio, as pirâmides.
Os parisienses fumam muito. A cidade cheira a cigarro, a lembrar que a boemia aqui nasceu e deu aulas pelo mundo.
Os parisienses grafitam muito. Viadutos, casas. Lembram São Paulo. A mesma transgressão? Por que não?
E os parisienses seguem flanando.
E tomando seus cafés em cafés, despreocupadamente, como se a vida devesse esperá-los. Por que não...?
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