sábado, 21 de janeiro de 2017

O que é ser uma pioneira?
21/1/2017


O que é ser uma pioneira? Pergunta inescapável desde que fui reconhecida pela ONU como uma das 10 SDG Pioneer do mundo em junho de 2016, ano inesquecível. Mas, antes até, veio a avalanche de sentimentos. Da incredulidade (eu estava esperando os vencedores serem anunciados para ver o que era necessário melhorar para o próximo ano) à surpresa, gratidão, aceitação, alegria. E desfrute. Sim, porque aquela semana em NY foi coisa de filme, indo de foto com Ban Ki-moon na Assembleia Geral da ONU a Jantar de homenagem no Cipriani e os incríveis painéis na Times Square.

Mas a pergunta segue: o que é ser uma pioneira? "Palavra usada para descrever alguém que é o primeiro a abrir caminho através de uma região mal conhecida", define um dicionário. Desbravador, descobridor, aquele que prepara os resultados futuros. Bom, tem a ver sim com o que faço em sustentabilidade há quase duas décadas (Jura? Isso tudo?...). Então me sinto um pouco mais confortável nesse belo rótulo, me acomodo um pouco mais dentro dessa "fantasia", consigo carregar um pouco mais esse importante título.

Pra falar a verdade, não sei se Nova Iorque me deixou meio anestesiada, acostumada a me ver no Painel da Reuters ou no meu próprio painel embaixo da loja do M&M (sem deslumbramento, apenas com uma sensação de "é isso então") que foi apenas no Brasil que senti a necessidade de pensar sobre o que tinha me acontecido. De assumir a responsabilidade por essa deferência que recebi. Na verdade, as pessoas me lembram mais dela do que eu própria. Quando me enviam e-mails me nominando e parabenizando; quando meu chefe diz a uma ex-funcionária minha que ela trabalhou com uma das 10 do mundo; quando meu time lindo ou o pessoal do mercado me lembra. Enfim.

Mas, sim, bate uma responsabilidade. Ou aumenta. De olhar pra você, seus gestos, suas falas, seus sorrisos e olhares. E pensar que talvez seu lugar no mundo seja esse. Tentando ajudar a construir um futuro necessário, urgente. Inspirando essa nova geração tão especial com quem tenho o privilégio de trabalhar - Luiza, Rebeca, Luanny, Catarina e Giovanna, obrigada!!. Despertando um novo pensamento no executivo que ainda estava distante do tema. Bolando novos métodos, estratégias, formas, formatos. E sempre junto com a legião de outros pioneiros (com ou sem reconhecimento da ONU, o são) a fazer o mesmo. A lutar bravamente para que a temperatura do planeta não aumente mais do que o aceitável (não me arrisco mais a falar em graus), para que a gente reveja nossos negócios, comportamentos, pensamentos.

Quando estava indo para a COP de Paris, em 2015, tive o seguinte insight sobre mim: "Eu não tive filhos, mas trabalho para deixar um mundo melhor para os filhos do mundo". Talvez seja disso que se trate. Talvez a melhor moldura para este pensamento inspirador seja mesmo aquela noite em Nova Iorque, véspera de retornar ao Brasil, depois de tudo. Sentada na Times Square, embaixo do Painel da Reuters onde minha caricatura rosa de pioneira passava randomicamente. Eu ali, olhando para mim mesma, no local icônico da cidade que nunca dorme, degustando cada segundo daquele momento mágico. Que bom que o Painel era alto, que eu tinha que ficar com a cabeça voltada pra cima a fim de me ver. Pois é a postura que se deve ter neste momento: elevar os olhos para o céu e agradecer.