quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pegadas na areia (as minhas) – 21/05/2014



É difícil andar na areia fofa da praia. O pé afunda, te segura, até que a outra perna venha em salvamento e completamos o passo. Tem que tomar cuidado, não forçar o joelho, a coluna. Quando tem um sol escaldante, então, melhor ainda. Estava eu assim hoje, caminhando na praia. Afundando pé ante pé, tentando me equilibrar, imaginando como as duplas de vôlei de praia sobrevivem.

Quando, de repente, pisei em uma pegada anterior. Era mais fácil assim. Alguém já tinha passado por ali, afofado aquela areia, se desequilibrado, talvez caído. E deixou seu rastro. Que poderia ou não ser seguido, aproveitado. Tentei, e gostei. Era quase como se fosse plano, andando assim, na pegada do outro.

Como na vida. Algum amigo, amor, família já passou por algo muito semelhante que nós, certamente. Talvez ouvindo mais, compartilhando mais essas experiências nossa caminhada fique mais leve, como meu caminhar hoje em cima de pegadas desconhecidas. Quem sabe? Um caminho já percorrido, uma dor já sentida, uma lágrima já vertida, será que aliviam nosso caminho? Talvez. Na areia funcionou.

Segui ali, firme, olhando atentamente para o chão e buscando a mesma trilha. Vez ou outra, ela sumia. Eu afundava e de novo me aprumava. Era divertido. Como na vida. Cair, levantar, desequilibrar, tentar de novo.

Mas compartilhar dá trabalho, dói também. Só mesmo tentando, se permitindo, recebendo e dando, quem sabe?

Fui até a ponta da praia. E comecei a voltar. Surpresa! Desta vez tinha minhas próprias pegadas para seguir, meu próprio caminho. Meu pé cabia, claro, perfeitamente naquela pegada, era minha. Como na vida. Momentos em que você se apropria tanto do seu caminhar que parece levitar, quase voar. Sabe as esquinas, as lombadas, as curvas, o momento de parar para abastecer. Um sentimento de conforto toma conta.

Mas o mar vem. E apaga as pegadas. Minhas e dos outros. A areia fica de novo lisa, pronta para ser pisada, afofada. A agasalhar novos e segundos passos. É preciso de novo recomeçar, deixar novas pegadas na areia.

Talvez não no mesmo ritmo das marés, mas a vida vai e vem.
Como as ondas que apagam as pegadas.
Mas que trazem as conchas que nos fazem sonhar.

Quem sabe até uma ostra, quem sabe uma pérola. Tudo está lá, o mar, a onda, a areia, a concha, a ostra, a pérola. Somos nós que escrevemos a ordem das coisas, o enredo da história. Às vezes mais inspirados, por outras quase repetindo uma trama já lida.

Se seremos os primeiros a pisar na areia fofa, se pisaremos em cima de uma trilha anônima ou se teremos a segurança de pisar em nossos próprios passos é impossível prever. Mas uma coisa é certa: o prazer do exercício é garantido.

Um comentário:

Regina disse...

Adoro seus textos querida. São perfeitos: claros, simples, verdadeiros e deliciosos . Bons caminhos querida.