terça-feira, 9 de julho de 2013

Massagens pelo mundo - 9/7/2013


Esta crônica merece uma introdução. Hoje é feriado em São Paulo, dia chuvoso, preguiçoso. Entro na internet, checo e-mails e, de presente, vejo as narrativas da Roberta. A TV estava ligada num canal qualquer quando ao esbarrarmos no controle remoto vai para o canal de músicas e o querido Djavan começa a cantar. Há convite mais persuasivo? Obrigatório mesmo de se aceitar? Acho que não. Agora, a crônica.

Sempre gostei de massagens. A pressão na pele, o contato que relaxa, que traz saúde, que nos torna mais prontos pra continuar. Por isso, quando viajo tento encaixar uma sessão de massagem. No Soho de Londres; nos hotéis de Doha e de Shenzen, na China; em Agra, Índia, bem pertinho do Taj Mahal; aqui do lado, em Florianópolis e, enfim, em São Paulo.

Estava caminhando por Londres, a caminho da Piccadilly, na melhor forma de estar em Londres. Caminhando, degustando, olhando, vivendo. “Massagem oriental”, claro, eu estava no Soho. A fachada não inspirava muito, mas, enfim, Londres. O que se há a perder? Entro. Antes de me dirigir à sala, converso com a atendente.

Procuro um remédio oriental, pra alma. Para a tristeza, a dor, a lancinante experiência de perder materialmente a minha mãe. Era tão recente, doía tanto – como ainda e sempre dói. Ela me deu envelopes com bolinhas em uma caixinha rosa que lembra o carinho de mãe. Várias bolinhas, para tomar ao longo do dia com água. “Para o stress”, diz a chinesa no seu inglês possível. Compro, levo, tomo por alguns dias. Deixo pra lá. Não há nada no mundo que cure essa dor, essa tristeza. Um pedaço de mim se foi, e não volta. Não nesta vida.

Mas voltemos à massagem. Desço uma escada escura. “Onde estou me metendo?”, berra minha mente ocidental e temerosa, moldada em cidades onde tudo e todos nos colocam à prova, constantemente. A sala tem a atmosfera oriental que eu esperava – e que tanto me aproxima de outras vidas, estou certa. Tons de vermelho e preto, pequena, com música aconchegante, e só. O restante está a cargo das mãos da experiente profissional.

Massagens são assim. Têm o dom de nos retirar um pouco do aqui e agora. De nos deixar transportar para o mundo das sensações, de nos fazer nos entregar ao toque, apenas sentir. Domar a mente, que quer sempre interromper este fluxo. Muito boa, relaxante, revigorante, profunda. Saio mexida, feliz. Sigo a caminhar rumo à alucinante Piccadilly. Volto pro agora. Mas um pouco mais preparada do que antes. Obrigada.

Esta crônica não segue uma ordem cronológica. Aqui, não, por favor. Sem regras. Vou agora pra Doha, Qatar, final de 2012, em meio às negociações do Clima. No último andar do hotel, cujas janelas amplas descerram uma paisagem bege de arquiteturas que não são familiares a meus olhos, marco a massagem. Tudo pronto, dirijo-me para a sala de espera. E espero. Espero. Espero. Para que eu não sinta saudades de casa. Finalmente, me encaminham. Nada de mais, uma boa massagem, que teve primeiro que relaxar minha tensão pela demora. “Até aqui lidamos com o que não funciona exatamente como deveria?”.

O mais importante da massagem em Doha é que... foi em Doha. Em meio a véus cobrindo todos os rostos femininos, que se esmeram nas maquiagens (pra quem ver?). Em meio a homens que andam à frente de suas mulheres. Em meio a um sentimento meu de não entendimento, de querer saber, de vontade de voltar pra minha terra e ter alguém a me dar a frente ao entrar no elevador (tudo isso rendeu uma crônica. Leia “Mulheres Invisíveis” aqui no blog). Massagem feita, volto para o quarto, que mais parecia um apartamento, dado os vários cômodos. Volto refeita, sim. E pronta para ouvir as rezas no meio da madrugada. Estou em Doha, afinal. Obrigada.

E a China? Enfim... a China. É lá, foi lá, estou certa. Retornar tem um sentido único, exploratório. Opto pelo hotel típico e não uma rede internacional. Quero sugar, sentir, inalar a China em tudo que posso, e devo. Lá, na pequena cidade de Shenzen, ao sul.

A massagem, claro, começa com um escalda-pés. Som ao fundo, a discreta profissional nem olha pra mim. Respeito, reverência, milhares de anos a cobrar-lhe a postura. Minha reverência não é menor. Ao receber o toque, relembro as lições milenares, a história legada, os ancestrais, os guerreiros de Chian, os sofrimentos atrás da construção da Muralha, o ritual inebriante do chá, a sapiência de sua medicina prevista no Livro Amarelo. A China. Sinto, recebo, viajo, agradeço. Nada se compara a uma massagem na China. Rendo-me a ela. Obrigada.

E ali, naquele pequeno hotel em Agra, a muitos e muitos quilômetros de Delhi, onde o apaixonado poderoso construiu o maior monumento ao amor, marco uma massagem típica indiana. Consigo ver ao longe partes do Taj Mahal. Nos jardins do hotel, os preparativos para um casamento. Um casamento indiano, podem imaginar? E eu indo para a massagem ayurvedica. Interessante. Forte, vigorosa. Indiana. A me lembrar da força deste povo, que se ampara em suas crenças, em sua religiosidade, no não visto, no além, no algo mais.

Massagem vigorosa, como tem que ser cada indiano, desde que se levanta até quando vai se deitar. A lidar com a pobreza, as carências, as dificuldades. E sempre com uma aura que desafia nosso entendimento, assusta até. Pela determinação. Saio da massagem comprando um creme indicado pela profissional. Um creme de fato cremoso, lembrando os mais hidratantes que já vi. Assim como a Índia, o creme penetra na pele, deixa sua marca emoliente, não me deixa esquecer daquele momento perdido, no interior da Índia, aos pés do maior monumento simétrico e desafiador que o ser humano já construiu. Obrigada.

E volto então a muitos anos antes, numas férias em Florianópolis. O hotel oferecia uma massagem-terapia. Seja lá o que isso significava, fui fazer. A profissional aplicava os movimentos e fazia perguntas, voltava na minha história, sentia minha emoção e tocava mais fundo. Até hoje não entendo exatamente o que se passou ali. Se de fato se passou assim como hoje lembro. Sei que chorei, muito, durante a massagem. Mistérios também residem aqui, no Brasil. Obrigada.

Por fim, um presente. Ganhar uma massagem tem um sabor especial. Alguém pensou em você e resolveu lhe dar este momento de prazer e relaxamento. Você não precisou se preocupar em comprar, escolher, nada. Apenas aproveitou. Em São Paulo. Meca de tudo, minha cidade. No melhor spa urbano. Obrigada.

E assim sigo lapidando corpo e alma, nas viagens físicas e mentais, nas massagens verdadeiras e espirituais. Obrigada.

Nenhum comentário: