sábado, 6 de abril de 2013

Mudança de patamar- 18/02/2009


Como passamos ao “próximo nível” no terreno da sustentabilidade? O que provoca, de fato, a mudança?

É dado que quando falamos de sustentabilidade – um termo que ainda é mal compreendido ou muitas vezes confundido com conceitos pares, como investimento social -- a tensão é uma mola mestra. Falar de sustentabilidade, paradoxalmente, é falar de futuro (digo paradoxalmente porque o conceito sempre existiu, desde que o mundo é mundo). E o futuro é algo em construção, por excelência. Se não, estaríamos falando de um presente que se repetirá amanhã.

Mas o mundo não aceita mais “presentes”. No presente, falhamos. Temos, no entanto, a oportunidade de acertar no tempo que ainda está por vir. Mas, sendo o futuro algo que ainda não existe, ele pode assustar, inibir, coibir. É preciso coragem para encarar o futuro, para se jogar nele, para ser um protagonista dele. Por isso, muitas vezes há o receio, o esperar pra ver, a cautela. É o conforto do presente falando mais alto.

Ok, mas, mais hora menos hora, com medos, receios, recuos, teremos que subir a um novo patamar. É imperativo, é inevitável. O que fará, então, com que isso ocorra? Esta resposta pode vir de vários lugares: da experiência, dos estudos, das tendências, das pesquisas. Vamos ver o que as pesquisas nos dizem.

Duas delas, realizadas no final de 2007, pelo Ibope e pela FBDS – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável – com executivos de diferentes ramos de atuação, nos apontaram a mesma direção: as pressões externas, sejam da sociedade civil organizada, sejam de órgãos regulatórios, são os fatores que menos influenciam na decisão da inserção da sustentabilidade na agenda estratégica das empresas. O que mais motiva são fatores internos e de ordem competitiva, como agregar valor à imagem e estar em linha com a missão e valores da empresa.

Este não deixa de ser um dado surpreendente, principalmente quando olhamos a trajetória de luta e ativismo de organizações que fizeram e fazem a diferença. “É preciso, então, ‘bater mais’?”, me perguntou o grande companheiro de jornada Gustavo Pimentel, à época na ONG Amigos da Terra, durante encontro que realizamos na Febraban para apresentação das duas pesquisas. Minha resposta foi, e é, decididamente, não.

Por mais que saiba e vivencie diariamente o quanto certo nível de tensão é fundamental para ganho de espaço da agenda da sustentabilidade no dia-a-dia empresarial, não acredito no embate como fator alavancador. Não no longo prazo. Não de forma sustentável -- para usar um termo bem apropriado.

Sou da turma do diálogo, da convergência, da composição. Preservando-se, claro, os espaços e defesas que às vezes não terão ponto de intersecção pela natureza dos atores. Esta, aliás, é a riqueza do debate. Cada lado tem que se posicionar, tem que defender seus pontos de vista, tem o direito de se indignar. Mas tem que compor. Tem que achar o ponto onde o conforto se dá, e o avanço é possível, não, claro, sem algumas concessões. Mas a vida não é feita de concessões?

“Não bate, não. Vamos conversar.” Esta foi minha resposta ao Gustavo em meio a uma plateia que participava ativamente desta discussão. Uma plateia que se mostrava receptiva a este preceito milenar, o do diálogo. Mas basta ligar a televisão e constatamos que a humanidade ainda não passou nesta prova dos nove. Guerras insanas, e nada santas, se perpetuam frente a olhos incrédulos dos quatro cantos do mundo. Mas não podemos desistir. Se nascemos, crescemos, caímos e levantamos interagindo por meio do diálogo – em todas as suas formas -- temos que continuar acreditando nele como elemento de avanço da nossa agenda socioambiental.

Um fato concretiza para mim este caminho possível. No final de 2007, a mesma Amigos da Terra, que faz parte da BankTrack, rede internacional de ONGs que monitora instituições financeiras privadas, realizou em parceria com a Febraban, na sede da própria Federação, o pré-lançamento do novo relatório da instituição, com a avaliação das políticas socioambientais para financiamentos e investimentos de 45 bancos de todos os continentes que operam em escala internacional.

Segundo o relatório, os bancos assinavam políticas coletivas, o que é importante, mas havia uma crítica forte e um pedido para que se investisse mais em políticas setoriais e temáticas. É verdade, havia e há esta necessidade. E isso foi dito a uma plateia de bancos, na casa deles. Prova do diálogo possível.

“Este é um momento histórico”, disse Gustavo. Naquele momento, estou certa, avançamos um pouco no debate, trouxemos forças e fragilidades à luz. Talvez não tenhamos ainda subido um patamar, mas certamente ele ficou mais próximo. E só foi possível como consequência de um diálogo constante, estruturado e respeitoso. A meu ver, o único caminho de fato sustentável.

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