domingo, 29 de julho de 2012

De Barretos para a Sacré Couer

6/11/2011

Sentada para escrever esta crônica sobre igrejas. Pego o controle remoto para colocar em um canal de música calma quando sem querer passo pela missa no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Coincidência? Jamais. Já passei da idade de acreditar nelas. Palavra da Salvação, Glória a vós Senhor.

Minha peregrinação começou lá em Barretos, onde mamãe nasceu. Depois da emoção de pegar sua certidão de nascimento no cartório, vou até a igreja onde talvez, provavelmente, possivelmente, quem sabe, ela foi batizada. Colorida, bonita mesmo. Ajoelho, rezo, penso nela. Penso em mim, na vida, nas provações, nos motivos. Rezo. Igreja pequena, igreja matriz na praça da pequena cidade.

“Mais que nossas vestes, precisamos lavar nossos corações”, diz a Missa na tevê.

Não muito tempo depois, sua missa de 3 anos de partida, mãe. Igreja Nossa Senhora da Esperança, onde casei. Emoções cruzadas, alegria, dor, saudade. Infância também. Tudo lá, na pequenina igreja da Rua dos Eucaliptos. Penso em ti, rezo. Choro, sinto tua falta, penso em tudo, rezo.

“Jesus está nos dizendo: tenham perseverança, pois o senhor está no meio de vós”.

Depois, o Perseverança, o porto seguro, a benção, a calma, a paz. Força, fé, esperança. Jesus nas paredes, cânticos no ar, sempre um sentimento de volta para casa. “Apegue-se à prece, a Deus”, disse Formiga.

“Jesus está dizendo para ter esperança sempre na pessoa de Deus. Ele é justo, é verdadeiro”.

De São Paulo a Salvador, a terra dos orixás, do candomblé, da fé que emana no ar, do misticismo, da benção, das bênçãos africanas. Missa na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Logo, a acolhida do Padre, a benzer os fiéis com água benta na parte de fora. Fitinhas do Bonfim, muitas. Assisto à Missa, comungo, participo da alegria baiana. Missa alegre, cantada. Bom pra alma, bom pra mente.

“Senhor, fazei-nos santos, como vós sois santos”.

E aí... Notre Dame de Paris. Certas emoções na vida são únicas, como essa. Assistir a Missa em francês, acompanhar pelo conhecimento universal de uma missa. Seja onde for, é igual. Música clássica, final de tarde em Paris. Turistas vem e vão. Eu fico. Comungo na Notre Dame. Ali, de frente pro altar, comungando em Paris. Como se fosse em Barretos. Ou São Paulo. Ou Salvador. “Onde estiver uma pessoa pensando em mim, lá estarei”, não disse Jesus? Lá ele estava. Falando em francês. Abençoando na língua do amor. Fico até a igreja fechar, sou a última a sair. Um privilégio vê-la assim, a Notre Dame de Paris tão humilde, tão incógnita, tão igual à pequena paróquia do interior.

“Proclamo a vossa Glória. Santo é o Senhor”.

Por fim, por enquanto, Sacré Couer, após 21 anos. No alto de Paris, branca, imponente, linda. Lá acendi uma vela para ti, mamãe. Lá, no sagrado coração de Maria, pedi por ti de novo. Por mim, por nós, pela vida. Pelo entendimento, pela aceitação. Pela força, pelo apoio, pela benção invisível do mais alto. Chorei por ti, por mim, por nós, por este mundo, por todas as provações que temos que passar sem entender. Trouxe uma vela, para a qual olho agora, ouvindo a Missa na tevê. O que é enfim a vida sem isso? Sem sentimentos, sem emoções.

Chegou a hora do Pai Nosso. Deve ser, então, a hora de encerrar aqui.
Amém.

“Ide em paz e que o Senhor e a Virgem Maria vos acompanhe”.

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