sábado, 12 de janeiro de 2013

Nunca antes tinha chorado por quem nunca conheci -10/01/2013


Talvez este título seja exagerado, afinal. Já chorei em filmes, novelas (sim, gosto de novelas!), vendo uma cena trágica no noticiário. Mas nunca antes tinha chorado pensando na história de pessoas reais, vividas num passado não tão distante, no meu próprio País.

Pessoas que lutavam pela liberdade de, simplesmente, falar o que pensam (isso não é um direito, afinal?). Pessoas que abriam mão de seus sonhos comuns, de terem seu emprego digno, pagarem suas contas, terem suas famílias, viajarem nas suas férias. Pessoas que aceitaram viver clandestinas em troca da realização de um sonho. Um sonho de liberdade.

Não faz tanto tempo assim, afinal. Eu era criança, temíamos por meu pai, professor, sempre tão direto em suas opiniões. Eu não tinha muita clareza do que ocorria no Brasil naqueles tempos. Talvez nem hoje. Sim, porque ler é muito diferente de viver.

E aí chega uma novela. Amor e Revolução. Forte, bonita, verdadeira, dura.

"Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu..."

E aí, assistindo aos capítulos da novela, começo a me transportar para aqueles tempos da ditadura. Por trás de cada sonho, de cada luta de cada personagem, os mesmos dramas humanos que vivemos hoje. A dúvida, o medo, a vontade de querer ser, fazer, conquistar, amar, e sorrir. Mas embalados por uma época de repressão.

"A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ..."

Querer mandar no próprio destino. Hoje, em tempos de 140 caracteres e um big brother 24 horas via internet, parece pueril. Mas as pessoas lutaram, não se calaram; e cometeram exageros também.

"A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir."

E aí, ouvindo Chico Buarque, a cada abertura da novela, choro. Penso no que viveram, no que perderam, quem perderam, como perderam. Penso no mundo. Volto a Doha, às mulheres cobertas por seus véus e seus homens a andar sempre na frente. Penso que as coisas não mudaram tanto assim, desde que o mundo é mundo. Mudam as guerras, os personagens, os lugares. Permanece a mesma irracionalidade humana.

"Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá..."

E a abertura da novela termina com uma rosa sendo colocada na ponta da arma em punho. Os olhos dela a colocar a flor. Os olhos dele a mirarem a arma em seus olhos amados. Amor, revolução. O que será que sobrou? Sonhos, ainda? Sonhos, afinal?

"A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou..."

Certamente várias serenatas deixaram de ser feitas. Outras se deram na clandestinidade, muitas se tornaram balela de um amante cansado, ingênuo. Mas eis que chega Herzog com sua história recontada. Um George Orwell às avessas. 1984 em 2012. Não foi suicídio. História recontada, família resgatada, ao menos. Afinal.

"A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá..."

"Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração..."

"O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou..."

"No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá..."

Procuro esta letra na internet (Ela, de novo. Ela, sempre). Está lá, no site. Ao lado do título, a data: 16 de maio, meu aniversário. Coincidência? Já deixei de acreditar nelas há muito tempo...

Um comentário:

Bárbara Caparroz disse...

Que bonito, Sonia. Gosto do que você escreve. :)